28 de out. de 2008


"Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de.

Apesar de, se deve comer.

Apesar de, se deve amar.

Apesar de, se deve morrer.

Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente.Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi.
E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso."(Clarice Lispector)

SAMBA LUZIA - SEXTA FEIRA

A Amizade (Djama Falcão / Bicudo / Cleber Augusto)

Amigo, hoje a minha inspiração
Se ligou em você
E em forma de samba
Mandou lhe dizer
Tâo outro argumento
Qual nesse nomento
Me faz penetrar
Por toda nossa amizade
Esclarecendo a verdade
Sem medo de agir
Em nossa intimidade
Você vai me ouvir
Foi bem cedo na vida que eu procurei
Encontrar novos rumos num mundo melhor
Com você fique certo que jamais falhei
Pois ganhei muita força tornando maior
A amizade...
Nem mesmo a força do tempo irá destruir
Somos verdade...
Nem mesmo este samba de amor pode nos resumir
Quero chorar o seu choro
Quero sorrir seu sorriso
Valeu por você existir amigo
Quero chorar o seu choro
Quero sorrir seu sorriso
Valeu por você existir amigo

18 de out. de 2008



Doidas e Santas
Martha Medeiros
'Estou no começo do meu desespero e só vejo dois caminhos: ou viro doida ou santa.'

São versos de Adélia Prado, retirados do poema 'A serenata'.
Ele narra a inquietude de uma mulher que imagina que mais cedo ou mais
tarde um homem virá arrebatá-la, logo ela que está envelhecendo e está tomada pela

indecisão - não sabe como receber um novo amor não dispondo mais de juventude.
E encerra: 'De que modo vou abrir a janela, se não for doida? Como a
fecharei, se não for santa?'
Adélia é uma poeta danada de boa. E perspicaz. Como pode uma mulher buscar

uma definição exata para si mesma estando em plena meia-idade, depois de já ter

trilhado uma longa estrada, onde encontrou alegrias e desilusões, e tendo ainda mais

estrada pela frente? Se ela tiver coragem de passar por mais alegrias e desilusões -

e a gente sabe como as desilusões devastam, terá que ser meio doida. Se preferir se abster
de emoções fortes e apaziguar seu coração, então a santidade é a opção.

Eu nem preciso dizer o que penso sobre isso, preciso?
Mas vamos lá. Pra começo de conversa, não acredito que haja uma única mulher

no mundo que seja santa. Os marmanjos devem estar de cabelo em pé: como assim,

e a minha mãe??? Nem ela caríssimos, nem ela. Existe mulher cansada, que é outra

coisa. Ela deu tanto azar em suas relações que desanimou. Ela ficou tão sem dinheiro

de uns tempos pra cá que deixou de ter vaidade. Ela perdeu tanto a fé em dias melhores
que passou a se contentar com dias medíocres. Guardou sua loucura em alguma gaveta

e nem lembra mais.
Toda mulher é doida. Impossível não ser. A gente nasce com um dispositivo interno

que nos informa desde cedo que, sem amor, a vida não vale a pena ser vivida, e

dá-lhe usar nosso poder de sedução para encontrar the big one, aquele que será

inteligente, másculo, se importará com nossos sentimentos e não nos deixará na

mão jamais. Uma tarefa que dá para ocupar uma vida, não é mesmo? Mas, além disso,
temos que ser independentes, bonitas, ter filhos e fingir de vez em quando que somos

santas, ajuizadas, responsáveis, e que nunca, mas nunca, pensaremos em jogar tudo pro

alto e embarcar num navio pirata comandado pelo Johnny Depp, ou então virar louca e cafetina, ou sei lá, diga aí uma fantasia secreta, sua imaginação deve ser melhor que a minha.
Eu só conheço mulher louca. Pense em qualquer uma que você conhece e me diga se ela não tem ao menos três dessas qualificações: exagerada, dramática, verborrágica, maníaca, fantasiosa, apaixonada, delirante.
Pois então. Também é louca. E fascina a todos. Todas as mulheres estão dispostas a abrir a janela, não importa a idade que tenham. Nossa insanidade tem nome: chama-se Vontade de Viver até a última gota. Só as cansadas é que se recusam a levantar da cadeira para ver quem está chamando lá fora. E santa, fica combinado, não existe. Uma mulher que só reze, que tenha desistido dos prazeres da inquietude, que não deseje mais nada? Você vai concordar comigo: só se for louca de pedra...
Depois dessa, só conhecendo a poesia de Adélia Prado, é maravilhosa.


A SERENATA
Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mãos incríveis
tocar flauta no jardim.
Estou no começo do meu desespero
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobro
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão.
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?
Adélia Prado

Barril 8000





Sexta no Barril entre amigos! Sempre muito bom!Nosso cantinho no "Jardim de Inverno"..rsrsrs